utopia

Sonhar

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Texto da uveana Isa Neves

Não compreendia a dificuldade das/os uveanas/os para explicar o projeto quando interrogadas/os “O que é a UVE?”, até começar a escrever qualquer coisa sobre. Agora entendo quase que perfeitamente, o que é não estar satisfeita com palavras, pois as considero insuficientes para esclarecer a respeito da minha experiência como nova uveana.

Na tentativa de colocar no papel fico me perguntando insistentemente: O que me faz querer participar da UVE? Pouca coisa costuma me estimular, ou me entusiasmo de forma repentina e logo depois perco o interesse ou me interesso de forma continua e crescente – o que ocorreu depois que tive a feliz decisão de reservar meu final de semana para formação da UVE.

Um projeto que pouco ou mal sei descrever me encoraja tanto, por quê? Reflito e palavras soltas aparecem, mas todas fracas incapazes de alcançar um explicação satisfatória sobre minhas (des)construções diárias, propiciadas, em sua maioria, pela UVE. SONHO é a palavra com maior força e insistência. O sonho tem diferente significação de acordo com as distintas subjetividades. No entanto, sonhos são iguais quando entendidos como fuga da realidade, fantasia, utopia e encantamento. Eu sonho que a educação possa ser o caminho para libertação, sonho com uma produção do saber em consonância com a realidade social, sonho com a valorização das subjetividades, sonho com o fim da hierarquização dos tipos distintos de conhecimento e sonho com o fim da educação bancária.

Como se me sentir livre para sonhar não bastasse, também me sinto pertencida. Calma. Uma nova integrante já sente que faz parte do grupo? Sim, estou atrelada ao universo uveano, lugar onde encontro outras/os como eu: sonhadoras/es que são a vontade viva de colocar em prática todos seus sonhos e utopias.

Sinto que o sonho se torna algo concreto quando sou recebida na horta pelas crianças com sorrisos, abraços, novidades ou sobre o que acharam da atividade passada. Segundo Paulo Freire, ninguém educa ninguém. É esse o processo educacional que se dá entre “tias/os da uve” e as crianças, ninguém detém do conhecimento, todas/os aprendem e ensinam de forma horizontal e simultânea. Na horta não existe índice de rendimento para mensurar o aprendizado e estabelecer menções. Mesmo quando nossa experiência química não ocorre como o planejado não somos reprovadas/os por isso – é como se um passo fosse dado em direção ao futuro sonhado que pensamos ser impossível, que agora passa a ser possível.

É na UVE que minha subjetividade é nutrida por outras semelhantes e estimuladas para algo tão urgente na Univercidade: sonhar. O projeto é, certamente, esse lugar de construção coletiva, onde nossas subjetividades são valorizadas e encorajadas para concretizar nossas utopias. Se a UVE fosse uma matéria eu seria monitora 

Gratidão :)

Texto do uveano Matheus Lira

A transcendência de uma formalidade acadêmica pode se manifestar de diversas maneiras. Uma delas pode corresponder ao vínculo criado entre os colegas de um determinado ambiente universitário, ou então nas relações entre os estudantes e os funcionários de uma situada Academia.

A princípio, um projeto de extensão universitária se encaixaria nessa delimitação da então citada formalidade acadêmica, haja vista que ele visa preencher o requisito daquele já conhecido tripé da formação: ensino, pesquisa e extensão. Todavia, quem conhece sabe que no caso da UVE essa categorização não passaria de uma tremenda redutibilidade do que o projeto representa pra vida dos orientadores e das crianças orientadas.

Todo ser humano é constituído pelas suas vivências. Individualmente, posso dizer que a maneira como troco experiências e conteúdo com as crianças é sublime. Cada uma delas é dotada de uma subjetividade única, expressada através do trajeto que elas percorreram até o momento presente. Diante disso, um desejo nostálgico me invade. Este, consiste no querer ter tido a oportunidade de ter uma UVE quando eu era criança. Se isso tivesse ocorrido, não tenho dúvidas de que meu processo de empoderamento e de autoaceitação se estabeleceria mais rápido.

A horizontalidade nas trocas permitiu-me desenvolver uma das mais ricas coisas que espécie humana pode criar: A alteridade. Essa capacidade de nós, como seres sociais, assentarmos vínculos de interdependência por meio da identificação no outro como um semelhante é imprescindível pra vida em comunidade. Ela permite melhorar-nos como indivíduos, e com isso conseguimos ver melhor os problemas que assolam a vida dos nossos próximos, alimentando assim aquela utopia prospectiva de um mundo sem opressões e exploração.

Reconheço nas crianças e nos orientadores indivíduos com igual potencial para a manifestação da realização pessoal e coletiva. Portanto, enquanto o projeto do mundo ideal não se concretiza, que ele seja presente ao menos na horta comunitária do Itapoã.

Gratidão define.